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"Eu escolhi jornalismo porque acredito que a mídia precisa ser democratizada"

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Lauryn, 19 anos, veio de São Paulo para estudar Jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia e está no primeiro período. Escolheu jornalismo, pois sendo negra e da periferia, via seus semelhantes alienados e tendo como único meio de informação o Jornal Nacional. Lauryn  acredita na representatividade e a necessidade de pessoas como ela, de dentro da periferia, estarem dentro dos meios de comunicação, de forma  que todos possam ter acesso a informação. A estudante sonha com uma mídia democratizada.

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Em relação à escolha por Uberlândia, explica que não foi bem uma escolha e mais uma alternativa. Sua primeira opção era a USP, de forma que pudesse permanecer próxima de casa, já que as dificuldades financeiras não permitiriam morar fora.  

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"São Paulo tem uma "renca" de Universidades, mas a variedade de cursos é  limitada. UNIFESP tem só as áreas de humanas  biológicas e exatas, UFABC e UFSCAR o mesmo. Assim só me sobrava a USP e UNESP, mas nunca prestei a UNESP. Foi sempre USP,  por ser na minha cidade, quarenta minutos da minha casa. Eu queria pública, então era isso que eu tinha. Nesses três anos nunca coloquei SISU. No SISU desse ano acabei tirando uma nota muito boa, e eu tinha me esforçado muito, porque estudava e trabalhava, meu desempenho foi legal mesmo com minhas condições. Então coloquei e acabei passando aqui e na Federal do Rio, mas quem escolheu mesmo aqui  foi minha mãe, por termos conhecidos na cidade e por toda questão financeira."

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Lauryn mora na casa de uma amiga e a escolha da mãe foi devido a facilidade,  em poder pagar uma ajuda de custo baixa perto de um aluguel que não conseguiria pagar. No começo Lauryn teve resistência pois nunca colocou a UFU com a intenção de morar na casa da amiga. Já havia se conformado em fazer mais um ano de cursinho para tentar USP novamente quando recebeu o convite por parte da amiga, que faz engenharia ambiental também na UFU.  Sua mãe a incentivou aceitar o convite da amiga para morar em sua casa já que ainda sim não estava segura e confortável  com a ideia de sair de sua casa para morar fora.

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Para vir para Uberlândia precisava sair do seu emprego e conseguir a rescisão e assim arcar com a mudança.  Mas tinha um  problema: para isso precisava ser demitida, só receberia a rescisão caso isso ocorresse. Lauryn admite que teve dificuldades em convencer o chefe a demiti-la e brinca:  "Mas no fim tudo deu certo,  foi de Deus ele ter me mandado embora,  porque burgueses não são muito amistosos as vezes".

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O processo de mudança foi conturbado, já que precisou organizar tudo sozinha. Como a primeira da família a entrar na Universidade, nenhum deles conhecia o processo para poder ajudar.

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"Como entrei por cotas tinha edital,  homologação,  vídeo,  um processo longo e que eu fiz todo sozinha. Eu chegava em casa do trabalho,  arrumava documento... foi conturbado."

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A maior dificuldade com Uberlândia para ela foi a questão do transporte. A diferença de como funcionava em sua cidade, capital paulista, com Uberlândia. A estudante considera o sistema de transporte de São Paulo mais simples e mais rápido apesar do tempo causado pelas longas distâncias e tamanho da cidade de São Paulo. Conta que passou alguns problemas, como ficar pedida na cidade por não entender a logística de transporte de Uberlândia. 

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"Minha amiga disse que morava perto do aeroporto. Em São Paulo normalmente os aeroportos  ficam próximos aos centros, das faculdades, mas eu pego três ônibus para chegar na UFU. Eu pego três terminais pra ir à faculdade, inclusive me perdi no primeiro dia na volta, a bateria acabou e eu não sabia chegar, a mãe da minha amiga tava trabalhando, tudo conspirou contra. A maior dificuldade pra mim foi o transporte, normalmente quem vem estudar mora nos arredores da universidade e eu morando em outro bairro tive e tenho essa dificuldade. "

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Hoje,  a estudante conta que conseguiu a bolsa de assistência estudantil oferecida pela faculdade à alunos carentes. Mas conta que  no começo o dinheiro da rescisão foi fundamental. O processo também foi um empecilho,  já que faltou aulas, imprimiu documentos e fez entrevistas para conseguir o benefício. Lauryn também desabafa sobre a dificuldade que teve em se manter nesses meses e a preocupação com a bolsa, caso fosse negada e todos processos decorrentes dele.


"Meus pais diziam que mandariam dinheiro caso precisasse. Mas você não quer fazer isso com os seus pais, fazer com que se esforcem mais, trabalhem ainda mais para mandar dinheiro para sobreviver na faculdade. Você se sente um gasto, principalmente para quem trabalhava e já tinha sua própria grana como era meu caso".

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A saudade também é uma dificuldade presente na vida de Lauryn, assim como a maioria dos estudantes que vão estudar fora, principalmente nos meses de adaptação,  como é o caso, já que está no primeiro período. Nos momentos tristes, ela conta que vê fotos e cartas que seus amigos e sua família fizeram pra ela, na tentativa de matar um pouco da saudade.
 

Lauryn aprendeu a amar Uberlândia e diz que as características favoritas da cidade são o seu céu sempre azul e ensolarados, a comida mineira e as pessoas que conversam banal mente no dia a dia mais que na capital paulista. Sobre aspectos que considera necessário mudança são o precário sistema de ônibus e transporte  e a menor quantidade de eventos culturais gratuitos que estava acostumada morando em São Paulo.
 

Não sabe se continuará morando com a amiga ou se buscará uma casa perto da faculdade após conseguir o benefício do auxílio moradia. Seus empecilhos são os gastos para montar uma casa, e o medo de cortes e atrasos no auxílio. E sobre o futuro, confessa que tem planos mas ainda incertos sobre como será a vida em Uberlândia. Pretende ir para uma capital trabalhar e fazer extensão, pós graduação e trabalhar na área de política ou moda. Sua dúvida é se volta para São Paulo morar com os pais, já que mesmo desejando isso sente que a adaptação a seguir "regras" e o "ritmo" de morar com a família novamente podem ser dificuldades.

Entrevista por: Julia Alvarenga

Texto por: Stéphane Vieira

Entrevista por: Julia Alvarenga

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